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Foto do escritorVitor Gabriel

Racismo: cultura e dança

Atualmente, estamos vivenciando inúmeros casos de racismo no país e no mundo, como o caso da morte de um homem negro após uma violenta ação policial em Minnesota, nos Estados Unidos, que causou indignação e comoção em todo o mundo. George Floyd, de 40 anos, morreu asfixiado enquanto o policial que o rendeu se manteve ajoelhado sobre seu pescoço. Infelizmente, esse não é o primeiro caso, nem o último, em que um negro é morto por autoridades policiais. O racismo está em todos os lugares, muitas vezes em pequenas atitudes, as quais não são consideradas racistas, mas são.

É o caso do Youtuber Julio Cocielo, que está sendo acusado por racismo por um post em 2018. A denúncia assinada pela promotora de Justiça Cristiana Steiner registra diferentes publicações de cunho racista feitas por Cocielo, entre elas uma que fez com que o Youtuber perdesse diferentes patrocínios. Na ocasião, ele escreveu em seu Twitter: “Mbappé conseguiria fazer uns arrastão top na praia hein”. Na época, isso não foi visto como racismo, mas era e hoje em dia está sendo questionado e apurado.

O racismo afeta inúmeras esferas da sociedade, chegando até mesmo na cultura. Desde a época em que os colonizadores chegaram ao Brasil e trouxeram da África negros para serem escravizados, a cultura desse povo, a religião, a dança, a música foram alteradas drasticamente. A companhia de Jesus, em muito, contribuiu para essa visão pejorativa a respeito da cultura da população escravizada. Em alguns sermões e cartas que os padres da época escreviam, vemos que a igreja obrigava os escravos a pararem de seguir suas religiões de origem afro, dando início à catequização e à adoração cristã. Aos poucos, a cultura negra foi sendo apagada e os negros em muitos eventos também. Podemos ver isso em uma companhia de dança ou espetáculo de dança, principalmente no Ballet clássico.

O ballet é uma dança influente mundialmente. Surgiu nas cortes italianas no século 16 e só era dançado pela nobreza. É um gênero dançado em grande parte por mulheres, mas que antes era só praticado por homens. Hoje, porém, eles são a minoria. Inúmeras performances que existem hoje em dia foram criadas na época pela nobreza que, obviamente, era formada por brancos. Chamamos essas peças de “Repertório”, porque demoram em média duas horas, ou até mais, chegando até quatro horas. Giselle, O lago dos cisnes, Romeu e Julieta são nomes de alguns repertórios famosos na cultura ocidental. Neles existem uma bailarina principal, em torno da qual a história gira. Muitas vezes, ela é escolhida pela sua técnica, beleza e talento, mas você quase nunca vai ver uma bailarina principal negra. Independentemente do talento, da vocação, das habilidades físicas, uma bailarina, no Brasil, não pode sonhar com o mais alto posto da maior companhia de dança clássica do seu país por causa da cor da sua pele. Qual é o nome disso?

O racismo é estrutural. Ele foi crescendo e no mercado da dança não foi diferente. Para se ter uma ideia, as sapatilhas do ballet foram criadas em 1820, mas somente quase 200 anos depois, em 2018, começaram a surgir sapatilhas para pessoas negras. O objetivo da sapatilha é dar continuidade da perna da bailarina aos pés, dando a impressão de que está descalça. No entanto, isso era um desafio para as bailarinas negras, já que tinham de passar a base do seu tom de pele e, muitas vezes, ficavam preocupadas, pois essa “manobra” deixava as sapatilhas escorregadias. Em 2018, finalmente, bailarinas negras puderam ir a lojas comprar suas sapatilhas de sua cor, porém custavam quase o dobro do preço.

O mundo do ballet é frequentemente criticado por ter problema com a diversidade. Muitas bailarinas e bailarinos passam por isso na compra de uma sapatilha ou até mesmo de uma meia calça (roupa usada por baixo, nas pernas, deixando a pele da bailarina uniforme), isso porque os tons sempre são: “Rose” ou “Bege”, própria para as peles claras.

Devido ao fato de a nobreza ter criado o Ballet, ainda hoje muitas escolas de Ballet levam o conceito clássico para seus palcos: o padrão de bailarinas brancas, loiras e magras. A escola Bolshoi já foi inúmeras vezes denunciada por racismo, justamente pelo fato de não contratarem ou selecionarem bailarinas negras para personagens principais ou coadjuvante. Não é racista, mas torce a cara quando vê uma negra fazendo Giselle ou Lago dos Cisnes.

Em agosto de 2019, a bailarina afro-americana Misty Copeland denunciou a escola por racismo, pois ao invés de usar bailarinas negras em seu corpo de baile (nome dado ao conjunto de bailarinos), a escola pintou o corpo de bailarinas brancas, fazendo o famoso Black Face. “Isso não é racismo ou coisa do tipo, pois na época era assim que os bailarinos faziam”, foi o argumento utilizado pelo diretor da escola.

Aos poucos algumas escolas estão deixando de lado esse estereótipo de bailarinas brancas e magras, adaptando-se ao novo, abrindo oportunidades para a diversidade. É preciso abrir oportunidades a todos, focando em ver o que realmente importa em uma bailarina: sua técnica e esforço. A cor da pele não deve ser barreira para nada. Somente assim iremos ver mais Giselles negras, mais bailarinos negros em palcos, deixando o que não era comum, para muitos, agora o novo natural.

Vitor Gabriel de Oliveira Chaves



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