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“A Carne Mais Barata”

As mulheres têm lutado por seus direitos há anos na história do mundo. Muitas realizações foram obtidas ao longo desse caminho e muitas outras ainda sonham em ser conquistadas. Porém, quando se fala de feminismo no Brasil, muitas vezes nos esquecemos de pessoas que além de combater o machismo também têm a árdua tarefa de lutar contra o racismo presente na nossa sociedade: a mulher negra, pertencente a uma das etnias e gêneros que mais sofrem no nosso país e no mundo.

Ao longo de muitos anos, as pessoas afrodescentes foram vistas somente como escravas. Até o final do século XIX, a escravidão era aceita no Brasil, e mesmo depois das leis abolicionistas ainda havia diversos escravos em famílias que não respeitavam essas leis. As escravas trabalhavam em tarefas domésticas, cuidando da casa e dos filhos de suas donas. Muitas das vezes as mesmas eram estupradas por seus patrões.

As escravizadas, não tinham só seus senhores mas grande parte dos homens considerando-as uma "beleza exótica" , além de fazerem todo o trabalho da casa. Acabaram se tornando a mulher perfeita para ser vista como um pedaço de carne, com o exemplo de Rita Baiana, personagem da obra “O Cortiço” de Aluízio Azevedo, que despertava nos portugueses seus instintos mais primitivos. Essa sexualização continua até mesmo nos dias atuais, com a mulher negra sendo lembrada em carnavais e representada seminua, ou em propagandas desdenhosas, como a da Devassa em 2013.


Depois de mais de 300 anos com o problema escravista, os escravos só estavam libertos no papel, pois nenhum apoio foi dado para os mesmos terem o básico na vida, muitos foram postos na rua e deixados a Deus-dará. Com isso, o problema da desigualdade não se tornou apenas social, mas racial também. Os afrodescentes passaram a viver em subúrbios, com condições de vida péssimas, desempregados ou com trabalhos que não pagavam tão bem assim.

Com a precariedade de vida dessa população, as mulheres negras sofrem novamente mais que qualquer outro gênero e etnia. Segundo dados colhidos nos últimos anos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), o desemprego atinge 16,6% delas, o dobro do que entre os homens brancos, e mesmo assim, quando empregadas, elas têm a metade da renda que esses mesmos homens. Apenas 0,4% delas chegam a cargos executivos no nosso país, mas 79% dos trabalhos domésticos são feitos por elas, com remunerações bem abaixo do merecido.

Como se aguentar tudo isso já não fosse demasiado, elas têm de enfrentar o preconceito, a violência, a falta de representatividade, a falta de oportunidades iguais, todos os problemas que a mulher sofre, porém acrescido do racismo que vigora no Brasil há séculos. Como Elza Soares retrata em sua mais famosa música “A carne mais barata do mercado é a carne negra”, sendo sempre subjugada.

Maria Firmina dos Reis, Antonieta de Barros, Viviane dos Santos Barbosa, Jaqueline Goes de Jesus, Sônia Guimarães, Marielle Franco, todas mulheres negras e de destaque em suas áreas, sejam elas escritoras, cientistas, ativistas. Brasileiras que servem de inspiração a todos e todas. Se nossa nação não ignorasse tanto o sexo feminino negro como faz, quantas meninas mais não poderiam chegar ao mesmo patamar? Ou pelo menos ter uma vida sem que seja necessário passar por tantos obstáculos para se chegar onde se quer. A mudança não é só pessoal, tem que ser ser estrutural. Precisamos mudar nossa sociedade inteira, começando por saber nossos privilégios na sociedade, e dando ouvidos as bocas silenciadas a anos e que devem finalmente esbravejar todas suas indignações e visões.


“Marcha das Mulheres Negras”, realizada em novembro de 2015, em Brasília.


Alêtsia Beatriz Silva Junqueira

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